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Nota do tradutor
A tradução não é uma atividade neutra. O que escolhemos traduzir tem um impacto direto na visibilidade, alcance e circulação das ideias. Neste sentido, a tradução é uma extensão das escolhas de publicadores e editores na língua original. Através da tradução dessa coletânea, participo de um projeto que procura tornar visíveis vozes ausentes há muito tempo nas publicações brasileiras mainstream e nas traduções delas para o inglês. Neste exemplo particular, abordagens críticas no conceito fortemente consagrado da Antropofagia são essenciais na consideração da arte e literatura brasileiras. Questionar os preceitos, os elementos estéticos e filosóficos do modernismo brasileiro, e também situá-los dentro de uma análise das hierarquias sociais no mundo das artes é particularmente necessário.
Para a elite das artes no Brasil a Antropofagia foi usada como uma poderosa metáfora pós-colonial com a intenção de unificar. O que os escritores dessa edição do Brooklyn Rail demonstram é que qualquer noção de união no modernismo brasileiro -ou melhor dito, na identidade nacional brasileira como se expressa nas artes—parece ser uma ilusão. Embora tenha contribuído substancialmente para a arte e literatura brasileiras, a Antropofagia precisa ser observada desde uma variedade de pontos de vista que respondem pelo alcance total de sua influência, limitações e contexto. Espero que essa coletânea contribua para desmascarar as dimensões sociais, estéticas e filosóficas da Antropofagia, particularmente em relação às periferias econômicas e sociais do Brasil. Aliás, os intelectuais e artistas representados aqui tem perspectivas e conhecimentos únicos para serem compartilhados, os quais, eu espero, possam respirar tanto em inglês quanto em português.
Ramon J Stern (1982) tem doutorado em literatura comparada da Universidade de Michigan Ann-Arbor. Ele é tradutor e administrador de educação superior. Serviu por muitos anos como gerente administrativo da Iniciativa do Brasil na Brown University e da Associação de Estudos Brasileiros (BRASA). Sua tradução do estudo de Oswaldo Truzzi Syrian and Lebanese Patrícios in São Paulo: From the Levant to Brazil (University of Illinois Press, 2018) ganhou o Prêmio Árabe-Americano de Não-Ficção em 2019 do Museu Nacional Árabe Americano em Dearborn, Michigan.