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FEB 2021

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Manifesto da Antropofagia Periférica

A Periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor.

Dos becos e vielas há de vir a voz que grita contra o silêncio que nos pune. Eis que surge das ladeiras um povo lindo e inteligente galopando contra o passado. A favor de um futuro limpo, para todos os brasileiros.

A favor de um subúrbio que clama por arte e cultura, e universidade para a diversidade.

Agogôs e tamborins acompanhados de violinos, só depois da aula. Contra a arte patrocinada pelos que corrompem a liberdade de opção.

Contra a arte fabricada para destruir o senso crítico, a emoção e a sensibilidade que nasce da múltipla escolha.

A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.

A favor do batuque da cozinha que nasce na cozinha e sinhá não quer. Da poesia periférica que brota na porta do bar.

Do teatro que não vem do “ter ou não ter...”.

Do cinema real que transmite ilusão.

Das Artes Plásticas, que, de concreto, quer substituir os barracos de madeiras.

Da Dança que desafoga no lago dos cisnes.

Da Música que não embala os adormecidos.

Da Literatura das ruas despertando nas calçadas.

A Periferia unida, no centro de todas as coisas.

Contra o racismo, a intolerância e as injustiças sociais das quais a arte vigente não fala.

Contra o artista surdo-mudo e a letra que não fala.

É preciso sugar da arte um novo tipo de artista: o artista-cidadão. Aquele que na sua arte não revoluciona o mundo, mas também não compactua com a mediocridade que imbeciliza um povo desprovido de

oportunidades. Um artista a serviço da comunidade, do país. Que armado da verdade, por si só exercita a revolução.

Contra a arte domingueira que defeca em nossa sala e nos hipnotiza no colo da poltrona.

Contra a barbárie que é a falta de bibliotecas, cinemas, museus, teatros e espaços para o acesso à produção cultural.

Contra reis e rainhas do castelo globalizado e quadril avantajado. Contra o capital que ignora o interior a favor do exterior. Miami pra eles? Me ame pra nós!

Contra os carrascos e as vítimas do sistema.

Contra os covardes e eruditos de aquário.

Contra o artista serviçal escravo da vaidade.

Contra os vampiros das verbas públicas e arte privada.

A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.

Por uma Periferia que nos une pelo amor, pela dor e pela cor.

É TUDO NOSSO!



Sergio Vaz (1964) é um poeta brasileiro e ativista, residente na região metropolitana da cidade de São Paulo. Além da publicação de inúmeros livros de poesia, destaca-se pelo fomento e criação de espaços culturais autônomos e pela promoção da poesia e literatura em regiões periféricas da cidade. Vaz é criador da Cooperativa Cultural da Periferia – Cooperifa, em 2000, onde reúnem-se semanalmente centenas de jovens para ler e criar poesia. É também idealizador do evento da Semana de Arte Moderna da Periferia, ocorrido em 2007.

Contributor

Sergio Vaz

Sergio Vaz (1964) is a Brazilian poet and activist, and resident of the Metropolitan Region of the city of São Paulo. In addition to the publication of countless books of poetry, he stands out as the creator of autonomous cultural spaces and promoter of poetry and literature in peripheral regions of the city. Vaz is specifically the creator of the Cultural Cooperative of the Periphery (Cooperifa) in 2000, where hundreds of youths meet weekly to read and create poetry. He is also the founder of the event “Week of Modern Art in the Periphery” which took place in 2007.

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